Retalho de memórias...Velha Cap DF. capitulo 4


Quando a aula terminava eu saía e enviesava por um trilheiro à direita até a primeira rua do aglomerado maior da Velha Cap... passava defronte à casa do Canela e do Zé Galdino, desembocando em frente dos Correios, no terreno pelado onde jogávamos "Bete" e disputas de pião em que valia os piões.
Na orla do largo ficava a venda do pai do Pide e Totonho e, de uma banda, o barraco do dentista, cujo filho, rapazinho à época, eu peguei numa brincadeira de extremo mau gosto — o pau de bosta — e o pior é que ele estava com a namorada. Foi no portão do Júlia, de frente, no turno da noite. (me arrependo)
A brincadeira consistia no seguinte: pegávamos um pau e passávamos bosta na ponta. Simulávamos uma briga e logo aglomerava plateia. O moleque desarmado então desafiava o outro a largar o pau e sair na mão, o oponente relutava, fazia um teatro e, depois tomado de "brios", pedia à volta que alguém segurasse o pau, e, quando o infeliz segurava, sequioso de ver a briga, o garoto o puxava e, com o oponente, debandavam às gargalhadas. Os arbustos é que pagavam o pato, e do largo,
adentrando a rua dos Correios, passava-se à esquerda, defronte da casa do Lade, logo após a do Preto, irmão do Onofre, do Tioca alfaiate, irmão do Aluízio, do Magela, do Cosme e João, da Yenes com a mãe, e do Gabriel e Santino, com a mãe... depois, abaixo da bifurcação, o comércio.
Cito também, e de grata memória: a Lindaura, colega de sala; o Jerry, colega também de sala e que curtia o Jerry Adriani, mantinha e penteava, penteava igualzinho o cabelo.
Curtíamos no geral a Jovem Guarda: Beatles, Roberto Carlos, Simonal, Ronnie Von, Leno e Lilian, Golden Boys, Renato e seus Blue Caps, Jorge Ben... etc. Ah, e o colega Rogério "Cebiom", fizemos nos fundos da casa dele um ringue — telecatch no auge... O Tumais Tomaz, "castelinho" por causa do pescoço curto... era amigo do meu irmão, parte do grupo em que o apelidaram de Grilo, e pegou... E, a Dona Amélia, uma senhora amiga do tio que morava na transversal de cima e nos tratava, e por causa do tio, muito bem.
Abaixo do vértice, se abria feito um ipsilon e delimitava-se pelas transversais de baixo e de cima. Desenvolvia-se o grosso do comércio. Se olhando da quina do vértice, em que se localizava o açougue do espanhol, abaixo à esquerda o bar e venda do Nery, a mercearia do Ceará abaixo — como tinha Ceará na Velha Cap... — a venda do seu Nem, pai do Juá; à direita, na sequência, o bar do Cardoso e a pensão do Nero, com uma quitandeira meio que espremida entre os dois... Acima da bifurcação, à esquerda, ficava o bar do João Leite; à frente dele, a venda do seu Abílio, e, aos fundos, o quintal e barraco do tio. Mais acima, de esquina, a barbearia do Joaquim...
Comprava-se nesse trecho, caçoavam, brincavam, bebiam — e muito — algo que amiúde derivava em brigas de rolarem no chão... Assisti a muitas delas, e memoráveis, entre o Jaime açougueiro e o Zé Pretinho... Era se encontrar, que logo se pegavam... e eu nunca soube o porquê... Outro de personagens, e com a sua bicicleta cargueira adaptada interessantíssima, e que trazia uma espécie de caratonha em naco de tronco de coqueiro, esculpida e com óculos escuros, chapéu e cigarro no canto da boca, paramentada.

Era o Para Pedro, um vendedor de quebra-queixo e creme... e com direito a improvisado megafone, chegava e se anunciava cantando e sempre: Para Pedro... Pedro Para... E logo se juntava e o arrodeava a molecada, e, enquanto vendia, promovia ele gincanas. Ganhei numa destas um bibelô (com fraude, claro, infelizmente). Foi assim: colocara o Para Pedro no meio da rua um ovo, e, para quebrá-lo de olhos vendados com um porrete na mão, depois de um giro de 180 graus e orientado pela galera, constava o desafio.
Apertei bem, ao ser vendado os olhos, e franzindo várias vezes depois a testa, consegui deslocar um pouquinho acima a venda e visualizar a meus pés o chão (não me orgulho disso)... Quebrei o ovo. Não deu outra...

Na transversal de baixo não se pode esquecer da mercearia do Bulú e do bar do Antônio Gravatinha, quase um "inferninho" kkkkkkk das coroas... Na transversal de cima, da venda do pai do Pide e Totonho, do pai do Neri, e da venda do Zé, irmão do Lade e do Piau. Editando.

Alguns acontecimentos na época instigaram a Velha Cap e adjacências, dentre eles a cassação de políticos em massa pelo governo militar. Nas ruas, o que se via eram grupos de pessoas em torno de um jornal e, ao contrário do que se pensa, “bem feito para estes corruptos” e frases semelhantes era o que mais se ouvia. Um outro fato foi a fuga do Gilberto. Que rebuliço!!! Adrenalina pura... Medo, pavor... Cadê o Gilberto? Foram vistas pegadas do Gilberto na beira do lago, noticiaram os jornais. A seguir, fora visto na zona rural de Unaí e, logo mais, daria o ar de sua graça na Bahia e depois pelo Brasil afora... kkkkkkkk Parecia o Belchior (cantor). Então, numa bela manhã, bem nos fundos do zôo, numa das muitas armadilhas espalhadas na mata, a onça Gilberto — que, por descuido, escapulira — aparece, capturada. Conclusão: a onça Gilberto não saíra das imediações... Que mico.

E o saltitante passeio em preto e branco do astronauta Neil Armstrong sobre o Mar da Tranquilidade kkkkkk, diante das retinas embasbacadas de todos nós. E não demorou muito, prenderam um homem vendendo lotes na Lua com mapa e tudo kkkkkk... já tinha vendido quatro...

Finalmente, um desastre com um ônibus da TURI... sentido Belo Horizonte-Brasília. Causou enorme consternação, deixando sem os pais o Magela, um bom garoto da rua dos Correios. E eu, que nunca tinha visto enterro coletivo, espero não ver nunca mais.

(continua)

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