Vila Operária Goiânia - A lagoinha



A Lagoinha

...Como que em engaste natural, incrustada em meia baixada, recoberta por mato ralo e arbustos de baixo porte: a Lagoinha — assim denominada pela molecada — era um espelho de águas mornas, límpidas e, apesar do tamanho (calculo entre 800 e 1.200 metros quadrados de área), era linda, mágica... inigualável.

Localizava-se em algum ponto da região que hoje compreende a Vila Isaura, o Abaja e o Jardim Xavier. Foi aterrada.
Naquele tempo, era ponto de encontro — piscina natural da molecada dos arredores.

Demandávamos suas margens pelo lado não brejado, seguindo por trilheiros... e lá tirávamos nossas roupas, que consistiam num calçãozinho e camisa, e do modo como viemos ao mundo, mergulhávamos.

O fundo era arenoso e firme na maior parte da lagoa. Entretanto, volta e meia, por causa da demanda, a gente errava e acabava do lado brejado, atolando — e quando saíamos, era um Deus nos acuda:
"Xime xuga! Sangue-sugas!" (O povo fala "xime xuga").

Uma porção delas nas nossas pernas, bombeando... kkkkkkkk
"Quem tem um cigarro aí? Uma guimba, pelo amor de Deus!"
E logo a guimba salvadora aparecia. Bastava encostar — e elas caíam.
Acho que sou assim tão sadio por causa dessas sangrias (eram receitadas por médicos, no passado).

De certa feita, passamos um mau pedaço — eu e o Tomazetti...
Retaliação? Vá lá saber. O certo é que provamos do próprio veneno.

Saímos do banho detonando, ora uma, ora outra mutuca (espécie de vespa enorme), que em matéria de sangria concorre com o "xime xuga". Isso sem falar dos mosquitos e dos carrapatos...

Nos dirigimos então à moitinha onde havíamos escondido nossas roupas. Rebuscamos tudo. Nada. Destrinchamos os arredores, reviramos cada moita... nada!
Seria engraçado, não fosse trágico.

Esconderam nossas roupas, os safados...

E ali, os dois em pêlo — eu e o Tomazetti... o que fazer?
Providenciais folhas de mamoneira vieram a calhar.

Uma caminhada, imagine só, até as imediações do primeiro barraco da redondeza. Por detrás de uns arbustos, batemos palmas... e ô sorte!
Apareceu uma mulher, ufa... caridosa. Emprestou-nos uns calçõezinhos velhos — dos filhos dela, penso eu. Dias depois os devolvi, agradecendo.

Conclusão:
Com o aterramento, o setor e a comunidade perderam uma área verde com um espelho d’água maravilhoso...

Comentários

  1. Olá Saulo! Conheci e frequentei essa lagoinha (anos de 1961 e 1962). Fui tambem atacado pelas famigeradas "sanguessugas"!!!Meu tio morava logo acima da mesma, perto de um campo de futebol que diziam ser do Monte Cristo ou Estrela Futebol clube. Depois o Iris construiu no local uma escola. Me parece que essa escola existe lá até hoje.
    Forte abraço. Carlos Pereira das Graças.

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