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Aguas Emendadas-Educação Ambiental...
Ô Lagoão! Lagoa bonita... No coração do Brasil
A brisa que balouça o junco e tuas águas eriça
Extrapola os circuitos e a minha alma agita...
aguasemendadas
Puxa me parece que nesta foto onde se vêem dois buritis, na parte de baixo a direita, sombreadas
aparecem duas trairas uma maior e outra menor isto se não me engano
EBC |
Graças a Deus a lagoa bonita é hoje parte da Reserva Biológica de Águas emendadas e consequentemente
protegida por leis ambientais e vigiada 24h por dia por policiais da CIA de Polícia Ambiental do DF. Portanto tanto a pesca como passeios e visitas estão proibidas.
Era uma vez...
Como das tantas outras em que, a certa altura do trilheiro que percorríamos, a Lagoa Bonita (nos arredores de Planaltina-DF) se descortinava — filtrada por carvoeiros, pequizeiros e outras árvores do cerrado — e, à medida que nos aproximávamos, embevecendo nossos olhos, ela crescia...
Caminhávamos pela orla até certo ponto e então adentrávamos pelo cebolão, aqui e acolá atolando, com a água subindo pelos joelhos, até o local em que, por causa de vândalos, afundávamos a canoa. Daí a resgatávamos, a esvaziávamos, depois colocávamos dentro os nossos apetrechos e subíamos.
Nesse dia, tomamos o rumo dos buritis, no vazante da lagoa. Eu, o João “Batista”, o “Nobré” Josué e seu irmão, o “Pelicano” — o “Pelica” Levi (já falecido)...
Por diversas vezes paramos, sempre fincando o varejão (aquele varão de madeira que usávamos para amarrar a canoa). Sempre na orla de clareiras (muitas, em meio ao cebolão que recobria praticamente toda a lagoa)... Inicialmente, pescamos piabas, que usávamos como isca — isto antes que se introduzissem tucunarés na lagoa, acabando com elas...
As águas eram transparentes, límpidas, e o fundo recoberto por espessa camada de lodo, aqui e acolá fragmentado... Quando havia calmaria, dava para observar as traíras surgindo do lodo, atraídas pela isca em movimento. Abocanhavam-na e se deslocavam com a linha — era o momento de fisgar.
O centro das clareiras era livre do lodo. Encontrávamos, quase sempre nesses lugares, peixes intrigantes — geralmente dois, pairando sobre locas no fundo. Eram enormes, arredondados, tinham na cauda uma pinta negra, assemelhando-se a tilápias, mas não eram tucunarés. Atiçávamo-los com as iscas em movimento. Eles as volteavam, ensaiando botes, mas nunca abocanhavam... Perdíamos um bom tempo com eles, sempre.
Saciados, com um mexido compactado em latas de óleo vazias, piabas cortadas e preparadas como isca. Tempo bom. Leve brisa soprando... Deslocamos, agora rumo ao montante, parando aqui e acolá, pescando... O sol descambava quando decidimos pelo caminho da volta, sempre fisgando traíras e pirambebas.
Trazíamos conosco caniços, estilingues e embornal. Eu, um caniço médio de bambu, improvisado, e outro menor, de pindaíba, também improvisado, que atravessava a canoa — o de espera.
Noite alta. Na orla de uma clareira, já próximos da margem, quase saindo... Última paradinha. Fincamos o varejão, amarramos a canoa e depois jogamos as linhas... Pingamos, negaceamos, batemos, chamamos... (Existe um ritual na pesca de traíras).
Fiz com o caniço menor alguns arremessos, atravessando-o novamente sobre a canoa de espera, e voltando ao caniço principal. Senti o pesar por duas vezes, depois um leve estímulo... correr. Algumas traíras foram fisgadas, e meus companheiros, outras tantas. Voltei a atenção para o caniço menor, repeti o ritual — atravessando-o novamente de espera e retornando ao principal — quando o caniço menor literalmente saltou, submergiu e reapareceu mais à frente, em meio à clareira...
Hipnotizados pela cena, em frenesi, arrebentamos os cordões que nos prendiam com a canoa no varejão e partimos no encalço. Alguns com as mãos servindo de remo... O caniço afundava e logo reaparecia mais à frente, sempre na direção do cebolão, e a gente na batida... Quando finalmente alcançamos, eu o apanhei, segurando fortemente... Senti os puxavancos, a ponta do caniço emborcava perigosamente, afundando...
— Afrouxa, Saulo, a linha!
— Pooorraaa... o cebolão!
— Cuidado!
Não pude evitar. Se enroscara... Linha esticada, engarranchada, pesada, e eu aflito segurando.
Aproximamo-nos devagarinho e, com a mão, segurei a linha, fazendo-a oscilar até que se desprendeu. E depois de breve luta, o peixe, cansado, se entregou. Arrastei-o cuidadosamente e, com o devido jeito, içei para bordo... Escapuliu dentro da canoa.
— Ô loléia... um trairão!
Abafamos-no, sem que com suas mandíbulas nos importássemos... Era enorme, escorregadio, lindo. Um trairão! Não dava para abarcar com as mãos. Todos queriam tocá-lo, medir, sopezar, admirá-lo...
Noite alta, clara... Depois, em meio ao cebolão, à margem, afundamos a canoa novamente e pegamos o trilheiro de volta pra casa. Caniços na mão, embornais pesando, satisfeitos, orgulhosos, tagarelando sobre a estrela do dia — a estrela do dia, como não poderia deixar de ser, e que, do embornal, a pedidos, volta e meia saía...
E quando saía, propostas choviam:
— Dou meu caniço!
— O "lingo"! (estilingue)
— Os peixes!
— Nããão... Neeem... nada. Quero não.
E naquele rústico embornal, feito com pedaços de lona, à mão, emborcada e prensada, prensando e pesando no ombro e na autoestima... fascinava, eclipsava coadjuvantes:
um orgulho de menino.
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