Condução

Cenas do cotidiano

Elaborando
Cenário
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Ponto de ônibus

... Hora um, hora outro, em pé, sentados,ou alentando se, percrustra o horizonte, na esperança do Buzú, um vislumbre — desse, perene ingrediente das suas demandas e  desconfortos. E quando ele desponta, elas se agitam e vão se espremendo: “Uiiiii, meu pé!”, em busca de um lugarzinho estratégico. Ele chega, repleto, vai encostando e abrindo as portas, que pessoas disputam como se fossem do céu.

Um por um, a catraca recepciona o passe livre para quem o tem, ou o antecipadamente adquirido, Sit pass — esse é o salvo-conduto. Quem não pôde adquirir nessas condições fica no canto, retido, atrapalhado e atrapalhando, ali com o dinheiro na mão e esperançoso de que alguém disponibilize uma unidade.

... Assentos ocupados vão se comprimindo pelo corredor, e — olha a gominha, três por um real... Ambulantes entram em cena, o áudio fica interessante... “Melzinho com própolis, bom pra tosse, bronquite e rouquidão, dois real a caixinha, três caixinhas por cinco real...” “Moço, desencosta...” (Voz de mulher) “Olha a massinha colorida” (com uma nas mãos amassando) — “Desenvolve a criatividade do seu filho e toma as mais diversas formas. Todas têm olhinhos que piscam...” Faz um bonequinho e o exibe — o curioso é que fica a cara dele.

Outro solicita atenção, levanta a camisa, exibindo um recipiente colado ao corpo contendo suas vísceras (abre-se uma clareira, como não sei) e faz um apelo carregado de religiosidade que culmina com o oferecimento de canetas por um real... Pessoas compram, e eu também, compungido.

“Moço, desencosta” (voz de mulher) “Apupos e trocadilhos... olha a gominha...” “Freggeeeels” (voz) — “Moço, dá o lugar pra este senhor...” Um jovem levanta, relutante, e o idoso assenta... Menino passa distribuindo papeizinhos amarrotados e depois volta recolhendo, alguns com moedas...

Na roleta, mulher passa filho deficiente e, quando chega sua vez, o cartão trava. Ela fala com o motorista, e este se mostra irredutível... começa um bate-boca. Ela esbraveja, chora... Alguém do outro lado ampara o menino desnorteado... outro libera a mulher com unidade do próprio uso... Impropérios ressoam — contra o motorista, a empresa, o governo...

“Barulho metálico” — é uma sacola que cai... pessoas se afastam, salpicadas... e no piso, em meio ao arroz, feijão e tomate esparramados, destaca-se um ovo estrelado... rapidamente um jovem se abaixa e recolhe. Espocam chacotas e condolências...

O terminal, ufaaa...finalmente...

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O ônibus circula, adentra o terminal e, na vaga correspondente, abre suas portas... As pessoas, meio que esbaforidas, vão se espremendo e como que espirradas, saindo...

— Moça a sua bolsa tá aberta... 

— Meu Deus, minha carteira... acontece, por vezes...

Comentários

  1. só você com sua alma de pescador, para transformar o cotidiano em que nuitos convivem anos apos anos para muitos uma vida nesta pagina muito bonita.Tambem muitos ali mendigam por umas migalhas para sua sobrevivencia,muitos ja sem nenhum sonho ou meta desistiram de si proprias. tambem leva os que optaram pela maneira mais facil ,furtando pessoas que trabalham e lutam para dar de graça a quem nã merece.

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